quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Eloá Pimentel

Fatos


   No dia 13/10/2008, Lindemberg Alves, com 22 à época, invadiu o apartamento da ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, de apenas 15 anos, e motivado pelo ciúme a fez de refém juntamente com mais 3 amigos (Iago, Victor e Nayara) que lá se encontravam para realizar um trabalho de geografia. No mesmo dia, Lindemberg permitiu que os dois garotos saíssem do apartamento, mas continuou mantendo as duas meninas presas. Na manhã posterior, libertou Nayara, que voltou para lá no dia seguinte, para ajudar nas negociações.
   A imprensa logo começou a noticiar o caso, e várias emissoras mandaram suas equipes para o local. O sequestrador chegou a conceder entrevistas por telefone, e até mesmo afirmou que libertaria Eloá. Um promotor de Justiça esteve no local na sexta-feira (17) trazendo um documento que garantia a segurança de Lindemberg ao se entregar, o que, segundo o advogado do rapaz, era uma de suas exigências. Porém, devido a todo o tumulto gerado pela aglomeração de jornalistas e curiosos no local, a situação mudou. A polícia perdeu o controle da situação e, quando organizava uma coletiva de imprensa para falar sobre as negociações, foi ouvido um estrondo. Às 18h08, a PM afirmou que policiais que estavam em um apartamento ao lado do cativeiro ouviram um tiro disparado pelo seqüestrador, que teria sido o estrondo ouvido, mas sem confirmações. O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) explodiu a porta e deteve Lindemberg. Nayara saiu andando do apartamento, enquanto Eloá, carregada, foi levada inconsciente para o hospital, onde foi decretada sua morte cerebral na noite do dia 18.
   Lindemberg foi preso e encaminhado à delegacia. Porém, seu julgamento realizou-se somente neste ano (2012). Levado a júri popular, o assassino confesso foi condenado a 98 anos e 10 meses de prisão, tendo que cumprir 30 anos (o máximo permitido pela legislação brasileira) em regime fechado.



Opinião


   É de conhecimento geral que a justiça brasileira só funciona para poucos, por isso não me surpreendeu a demora no julgamento de Lindemberg. Se por um lado esse tempo decorrido foi ser considerado prejudicial à eventual condenação, por outro pode ter evitado a tomada de uma decisão passional, pois nesses casos de grande repercussão, aumenta-se a responsabilidade do júri e do juiz encarregados do caso.
   A estratégia da equipe de defesa ficou clara desde o inicio: conseguir a pena por homicídio culposo (sem intenção de matar), menor do que a de um homicídio doloso (intencional); lesão corporal culposa e não tentativa de homicídio contra Nayara, e que ele fosse absolvido da acusação de cárcere contra os amigos de Eloá. No entanto, o que chamou mais a atenção durante o julgamento foi a advogada de defesa, Ana Lúcia Assad, que foi muito agressiva durante as audiências, chegando até mesmo a dizer que a juíza Milena Dias precisava "voltar a estudar". Sua conduta foi considerada exagerada e extremamente passional, e a ofensa à magistrada responsável pelo caso pode ter contribuído para a sentença final.
   Em seu depoimento, Lindemberg disse ter atirado contra Eloá sem a intenção de matar, por reflexo de um movimento brusco feito por ela, e ainda pediu desculpas à ex-sogra. Sua advogada tentou construir sua imagem como a de um rapaz trabalhador, honesto e ainda apaixonado por Eloá, o que - tendo em vista os desdobramentos do crime - foi considerado um desrespeito à família. Pela primeira vez em quatro anos, Lindemberg esboçou emoções, como no momento em que Ronicson Pimentel, irmão de Eloá e seu antigo amigo, chamou-o de monstro.
   Outro aspecto muito explorado pela defesa foi a 'culpa' da mídia no desfecho do caso. Segundo os advogados de Lindemberg e policias que participavam das negociações, a cobertura feita por diversas emissoras prejudicou a definição de um acordo. Segundo o sociológo e ex-comandante do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especias) Rodrigo Pimentel, a atuação dos jornalistas foi "irresponsável e criminosa", gerando nervosismo no sequestrador e ocasionando a perda de controle do mesmo. Em entrevista ao portal eletrônico Terra, Pimentel ainda disse que a falta de equipamentos policias (como camêras) e a reintrodução de Nayara no apartamento foram erros cruciais, deixando claro o despreparo da polícia brasileira para lidar com situações de risco como estas.
   Passados os três dias de julgamento e ouvidas todas as testemunhas, chegou-se ao veredicto: 98 anos e 10 meses de prisão. Porém, o máximo permitido pela Constituição são 30 anos de reclusão, dos quais já foram cumpridos 4. Sendo assim, daqui a 26 anos, Lindemberg estará livre, enquanto a família de Eloá continuará convivendo diariamente com sua falta. Isso é o que nós chamamos de justiça? Infelizmente nossa justiça dá margem a vários absurdos como este.


Sugestões

6 comentários:

  1. Eu não sei por onde começar as minhas indignações. Ouvi de uma repórter , que estava presente durante o sequestro, em uma entrevista, que ela estava lá para pegar o máximo de informações que conseguisse antes que a menina morresse, porque ela já sabia qual seria o desfecho. Ou seja, primeiro que ela sabe da incompetência da policia de tantos casos que acabaram do mesmo jeito e segundo que ela, como muitos outros repórteres nao estava dando a mínima para o mal que eles estavam fazendo ali, prejudicando ainda mais o trabalho policial. Eu gostaria de entender mais sobre esses assuntos jurídicos, como funciona um processo de julgamento, porque eu fico aqui abismada dessa demora, qual é o problema? Ele matou, por querer ou sem querer querendo, vai perder um braço e ainda tem os trinta anos de prisão, simples, deveria ser assim. Ele nao teria levado uma arma se nao tivesse nenhuma intenção, ou será que ele levou para se proteger dela? como assim? Desumanos nao devem ter nem direito a advogados, sabemos o que realmente aconteceu, podemos/o juiz pode julgar e casos esclarecidos como este terminariam mais justos e mais rápido.

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    1. Dani, eu concordo totalmente com o que você disse! Esses criminosos nem deveriam ter direito de defesa, e a pena deveria ser ainda maior. Infelizmente, a justiça em nosso país é uma incognita: não sabemos direito nem quando, nem como funciona. A demora no julgamento desse caso somente reflete o descaso dos magistrados para com as famílias das tantas vítimas de casos como esse.
      Obrigada por ler e compartilhar conosco sua indignação!

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    2. Não concordo com a ideia de que não deveriam nem ter direito a defesa simplesmente pelo fato de transgredir um princípio da democracia. Acho que eles deveriam, sim, ter esse direito, por mais óbvio que seja o julgamento correto. É assim em todo país democrático, e nem todo país tem a demora que temos. São problemas seculares de burocracia, mas que é resposta de uma sociedade levada à achar, sempre que pode, brechas nas leis...

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  2. Isa, gosto da sua opinião, mas infelizmente, acho que nessa história não sobra um certo. Tá todo mundo errado! Juíza preconceituosa que avaliou parcialmente o caso, advogada de defesa que apelou de todas as formas possíveis, procuradoria que apontou os mesmo motivos para diversos crimes diferentes (isso enfraquece a acusação) e por fim a polícia EXTREMAMENTE despreparada - claro, gastamos 30 milhões com carnaval em SP, para quê aumentar salário deles? Para quê ter mais equipamentos? Enfim...

    O que acho é que o Lindemberg vai pagar mais do que deve. Pode até ficar 30 anos na prisão, engordou desde que entrou na cadeia, tem o lance da família, da vítima... Mas e a justiça? Como fica? Era justa e digna a vida que ele vivia, ou o tratamento que ele recebeu da política e do sistema judiciário? Na minha opinião 98 anos é demais!

    Desta forma acredito que é melhor revermos os erros que levaram a esse crime, porque senão já é sabido, esse vai ser o primeiro de muitos Lindembergs. Quem não se lembra do assassino de realengo ano passado? E se ficasse vivo? Eram mais 98 anos de prisão? E a galera esquece os reais motivos que levaram a estes problemas. E eu adoro ver no noticiário americano, alemão, etc., os colegas destes tipos dando entrevista: "Mas era um gordinho tão na dele..." Sei, sei...

    Só acho que pra justiça brasileira é mais fácil pegar o atalho da classe média e bater o martelo, dando pena de morte para quem já tem pena de vida...

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    1. Ri, é legal ter opiniões diferentes aqui! Eu discordo da sua opinião sobre a pena, apesar de achar que somente a lembrança do que ocorreu já deve atormentar o Lindemberg diariamente. Posso parecer meio retrógrada, mas acho que há crimes que deveriam ser pagos com a prisão perpétua, como este caso ou até mesmo os dos assassinos no menino João Hélio (aquele que foi arrastado por um carro no Rio de Janeiro) que hoje é protegido pela polícia por correr 'risco de vida'. E as vidas que eles tiraram, ninguém leva em conta? Sei que minha opinião é meio extremista mas, para mim, uma vida só se paga com a vida.
      Quanto a questão do despreparo d a polícia e da falta de investimento do Estado, já está ficando cansativo bater na mesma tecla. Enquanto não forem destinadas as verbas necessárias para as forças policias e não houver a qualificação dos oficiais, continuarão ocorrendo crimes tão horrendos quanto este!
      Obrigada por ler e comentar :) é dos leitores como você que nós precisamos!

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  3. Penso que o ocorrido não foi um crime, mas uma grande tragédia, como tantas outras por nós presenciadas. Por isso não gosto de escrever sobre o assunto... As palavras ditas, ainda que escritas com muito cuidado, podem dizer o que não devia; julgar sem permissão e ferir ainda mais a culpa de todos nós. Somos todos culpados, sim, pela existência dos Lindembergs.

    O que faço aqui, nestas poucas palavras é a tentativa de aliviar a profunda tristeza que esse caso me fez sentir.

    Ainda que o debate seja necessário para o convívio social, não acredito em fórmulas para ser feliz, em regras para o sucesso dos filhos ou conclusões moralistas. Não acredito em culpados, somos todos vítimas desta grande armadilha chamada vida.

    A única certeza que defendo é a de que somos todos vulneráveis ao impossível, sujeitos às tragédias pessoais e familiares, porque somos todos humanos e não estamos prontos. Precisamos de atenção e afeto constantes nas relações escolares, pessoais, familiares e profissionais. Precisamos de escolas humanizadas, que saibam acolher os sentimentos e combater a arrogância e a indiferença. E nesse processo, quem sabe, evitarmos as dores das Eloás entre nós.

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